quinta-feira, 10 de maio de 2012

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cerromaior











Cercado de cerros, que vão de roda em roda em anfiteatro com o lugar do palco largamente aberto sobre a planície e o mar, o cerro de Santiago é de todos o mais alto. Daí o título: Cerromaior. Vila que me propus tratar, focando, capítulo a capítulo, todas as camadas sociais. No entanto, no sentido de alcançar-lhe região mais acertada ao meu intento, situei a vila do romance, distante da costa, onde se não avistasse o mar.

Manuel da Fonseca,Beja, junho de 1982

Cerromaior

Trabalho a que me obriguei por contrato, Cerromaior tem, como todos os livros aparte a história que serve o texto, uma outra história, espécie de romance de um romance, de que darei aqui breve relato. Não para emoldurar o livro, mas apenas para contar um pouco como as coisas se passavam naquele tempo.
Para começar, referindo-me propriamente ao romance, devo dizer que as personagens e a área onde elas se moviam já eu as tinha imaginado. Até o título. Que me fora sugerido pelo cerro do castelo novo, novo de mil anos, entenda-se, que é o chão de Santiago, vila onde a minha experiência encontrara, e recriava agora as personagens.

Manuel da Fonseca,Beja, junho de 1982

Neorrealismo

Corrente literária de influência italiana que anexa algumas componentes da literatura brasileira, nomeadamente a da denúncia das injustiças sociais do romance nordestino. Quer na poesia, quer na prosa, o neorrealismo assume uma dimensão de intervenção social, agudizada pelo pós-guerra e pela sedução dos sistemas socialistas que o clima português de ditadura mitifica.
A sua matriz poética concentra-se no grupo do Novo Cancioneiro, coleção de poesia, com Sidónio Muralha, João José Cochofel, Carlos de Oliveira, Manuel da Fonseca, Mário Dionísio, Fernando Namora e outros.
No romance, Soeiro Pereira Gomes, com Esteiros, e Alves Redol, com Gaibéus, de 1940, inauguraram, na ficção, uma obra extensa e representativa, que também muitos dos outros poetas mencionados (sobretudo os quatro primeiros) contribuíram para enriquecer.
O romance neorrealista reativa os mecanismos da representação narrativa, inspirando-se nas categorias marxistas de consciência de classe e de luta de classes, fundando-se nos conflitos sociais que põem sobretudo em cena camponeses, operários, patrões e senhores da terra, mas os melhores dos seus textos analisam de forma acutilante as facetas diversas dessas diversas entidades, o que se pode verificar, nomeadamente, em Uma Abelha na Chuva, de Carlos de Oliveira, Seara de Vento, de Manuel da Fonseca, O Dia Cinzento, de Mário Dionísio e Domingo à Tarde, de Fernando Namora.

Fonte: Site do Instituto Camões

Desenho: Álvaro Cunhal

terça-feira, 13 de setembro de 2011

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Auto-retrato


















Auto-retrato

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,

Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Bocage
Poesias de Bocage
Lisboa, Comunicação, 1992 (4ª ed.)

sábado, 25 de setembro de 2010

Susan Sontag















«Conheço agora alguma da minha capacidade… Sei o que quero fazer com a minha vida, tudo isto sendo tão simples, mas tão difícil para mim sabê-lo no passado. Quero dormir com muitas pessoas – quero viver e odeio morrer – não vou ensinar, nem tirar um mestrado depois de fazer a licenciatura…
Não tenciono deixar que o meu intelecto tome conta de mim, e a última coisa que quero fazer é admirar o conhecimento ou pessoas que detêm o conhecimento! Não quero saber da agregação de factos de ninguém, excepto quando for um reflexo [da] sensibilidade básica que necessito… Tenciono fazer tudo…»

Susan Sontag, in “Renascer” Quetzal, 2010
trad. Nuno Guerreiro Josué